segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Compilação de tristezas do meu caderninho de 1 euro




É verdade que eu achei que seria mais fácil fazer intercâmbio. Mas é no meio dos conflitos e das confusões que eu vejo que tenho amadurecido. Na marra mesmo. A partir do momento que eu vejo que eu não posso simplesmente pegar um avião e voltar pro Brasil, eu amadureço. Eu aprendo a ser forte e a aguentar a saudade. Sim, o intercâmbio me fez uma pessoa sensível. Sensibilíssima - se é que essa palavra existe. As pessoas sempre reclamaram que eu sou fria e distante, que não ligo pra nada. Mas não. Eu me descobri uma pessoa super sensível aqui. E eu amadureci porque aprendi a valorizar meus pais, meus amigos, minha língua, meu país, minha cidade. Eu sinto falta de cada detalhe, de cada lugar, de cada pessoa. Eu sei que eu dizia que tava de saco cheio do Recife e eu sei que vou dizer isso quando eu voltar - mas é apenas uma questão de convivência.
Bremen às 8h30. Quem consegue trabalhar nessa escuridão?

Sempre que eu conheço uma pessoa que mora há anos fora do seu país de origem eu me pergunto: meu deus, como ela consegue? Certos imigrantes passam anos e anos sem voltar pro seu país e quando eu penso que ainda faltam oito meses pra eu voltar pra minha terra chega bate um desespero!

Às vezes, eu me sinto num exílio, sem ter como sair, presa, claustrofóbica. Pode parecer ingratidão (principalmente com os meus pais que estão me dando esta oportunidade), mas essa é a verdade. Eu sei que vai ser bom pra mim. Pode não estar sendo agora, mas eu já me sinto outra pessoa. É uma metamorfose lenta e dolorosa.

Talvez eu não tenha escolhido um país fácil pra se morar. E eu ainda carrego o peso de ter um sobrenome alemão e não ser de fato alemã. De ter cara de alemã e não falar alemão. Além disso, como eu vim pra cá pra aprender alemão, eu me sinto culpada a cada palavra em inglês que eu falo. A cada vez que eu saio só com brasileiros. É como se eu não me esforçasse o suficiente. É como se eu jogasse tudo fora. Essa ligação que eu tenho com a Alemanha é um plus que eu tenho que os outros intercambistas não têm. Eles vêm pra ter aula em inglês, pagar algumas cadeiras que não tem no Brasil e voltar. Mas o curso não importa de fato pra mim. Além de tudo, eu não tenho bolsa como os outros - o que me faz ter que contar cada moeda. Controlar meu dinheiro - isso também me faz amadurecer. Pagar meu aluguel, meu plano de saúde, a multa do banco porque a conta ficou no vermelho - isso tudo me faz amadurecer.


Sim, a qualidade de vida aqui é infinitamente melhor do que no Brasil - não dá pra negar-, e sim, eu ainda penso em morar definitivamente na Europa.  Minha ideia inicial era aprender alemão agora e voltar depois pra fazer um mestrado. Mas sinceramente, não sei se quero mais a Alemanha. Acho que to ficando meio traumatizada. Mas sinceramente [2], nenhum lugar no mundo vai ser como o Recife. Eu nunca vou me sentir confortável como eu me sinto no Recife, em Casa Forte. Minha família está lá, meus melhores amigos estão lá, minhas histórias estão lá. É essa necessidade de conforto e unidade que eu tenho. Gringo vai ser sempre gringo, não importa quanto tempo ele more no país. 
A vontade que eu tenho é de estudar aqui, voltar, fazer um mestrado, um doutorado e então voltar pro Brasil de vez. Acrescentar algo, levar conhecimento, ver o País crescer, acompanhar, fazer parte e participar de quantos protestos forem precisos. Não importa se eu tenho cidadania alemã, eu sou é brasileira.

Eu estaria reclamando de barriga cheia se eu dissesse que as coisas estão ruins. Mas se eu disser que eu to feliz é mentira. A Alemanha não ajuda, os alemães não ajudam, a língua não ajuda, o inverno não ajuda. E eu ainda continuo na luta pra achar um quarto (ao contrário do que eu disse num post anterior, eu não me mudei ainda). Dois meses, 50 emails, 10 visitas e nada. Se eu não achar um lugar até 1º de fevereiro, ficarei homeless. Mas isso é outra história problema.

Eu sempre achava engraçado quando os alemães justificam tamanho mau humor com o clima. Afinal, acho que o tempo no Reino Unido é ainda pior com aquela chuvinha irritante. Mas to realmente começando a acreditar que faz sentido. Nunca tem luz, sempre tá frio, nem neva nem faz sol. A vontade que eu tenho é de ficar na cama lembrando de que nessa época do ano eu costumo passar semanas inteiras na minha casa de praia. Talvez melhore quando a primavera vier. Talvez eu mude de opinião. Talvez eu pare de sonhar que to voltando correndo de braços abertos pro Recife como uma prisioneira recém-libertada (sim, sonhei isso hoje). Talvez eu pare de chorar com tanta frequência.

Um comentário:

  1. Ursula, eu nao sei se voce podera ler meu comentario, mas é assim mesmo! Da uma depressao absurda a Alemanha, as pessoas.. Tudo! Estou sentindo exatamente isso

    ResponderExcluir