sábado, 28 de dezembro de 2013

Trabalhar na Alemanha - Primark

A Primark de Bremen fica no shopping Water Front e é um pouco distante do centro da cidade.

Como algumas pessoas já sabem, comecei a trabalhar aqui. E como muitas perguntas surgiram, espero responder todas ao longo do post. Então vamos lá.

Desde de antes de vir pra cá, eu já tinha em mente que deveria conseguir um trabalho - pelo menos se quisesse continuar viajando pela Europa.

Minha roommate um dia comentou comentou comigo que alguém comentou com ela que estavam precisando de gente na Primark.

[A Primark é uma rede de lojas Irlandesa que vende roupas muito muito baratas (e lindas).]

Então fui lá e perguntei a um dos funcionários o que eu deveria fazer. Ele me disse que eu deveria ir a uma agência de trabalho no centro da cidade chamada GPS (Groove Personal Service).
Como tenho cidadania alemã, não tive maiores problemas burocráticos. Tive que preencher um formulário dizendo onde eu tinha trabalhado antes e com o que eu gostaria de trabalhar. Obviamente, passei 40 minutos com o dicionário traduzindo profissão por profissão - que ia de peixeiro a mecânico. Também fiz uma entrevista - e deixei bem claro que estava ali para trabalhar na Primark.
O cara disse que eu ganharia 8,19 euros por hora e o expediente era das 11h às 20h. Me ofereci para trabalhar 3 dias por semana. Ele disse que ligaria em breve pra me dar uma resposta.

Logo depois que cheguei da minha viagem a Londres, o mesmo cara me ligou e disse pra eu ir lá assinar os papéis - isso é outro ponto que me deixa angustiada aqui na Alemanha: assinar um monte de documento sem entender do que está escrito. A sorte (?) é que os alemães são sérios e confiáveis. Depois disso, tive que ir no Büro (tipo a prefeitura/governo) e pegar o documento relativo ao imposto de renda - que aqui eles descontam diretamente do salário. Como eu sou estudante, não preciso pagá-lo.

Minha roommate e outra conhecida também começaram a trabalhar junto comigo (elas são espanholas).
Vestiário feminino
Eles deram uma farda preta, sapatos, um crachá, mas não deram qualquer tipo de treinamento. Resultado: eu parecia uma barata tonta no meu primeiro dia de trabalho.

Um pouco antes das 11h, todos se reúnem e cada um é informado em qual departamento deve trabalhar. O almoço dura 45 minutos e tem também uma segunda pausa de 15 minutos. E esse tempo passa voando porque só até chegar no refeitório leva um século.

Na hora da saída, as pessoas literalmente correm pra ir embora. No começo eu não entendi o porquê, mas é pra não perder o tram - que a noite demora muito pra passar.

Fico linda de farda, sqn. Essa calça é uó.
Depois do primeiro dia, passei quase um mês sem trabalhar. Não é uma coisa regular. Eu sempre espero o cara da agência ligar e perguntar se eu posso ir tal e tal dia. Agora em dezembro, no entanto, trabalhei hardmente por causa do Natal. Me chamaram pra trabalhar quatro dias seguidos e, acreditem, não é fácil. Acho que se fosse pra trabalhar todo dia lá, eu não aguentaria não.

"O que é que tu faz? Tu é caixa?"

Hahaha, queria eu ser caixa. Caixa é high level, gente.
Eu normalmente fico arrumando os produtos nas prateleiras. Meu ponto alto até agora foi colocar os preços nos produtos. haha
Não saber alemão direito é uma barreira pra conseguir algo melhor. E o mais interessante é que os alemães vêm me perguntar as coisas já na certeza de que eu sou alemã - quando na verdade eu faço parte das estatísticas: a maioria dos funcionários é imigrante. Paquistaneses, espanhóis, poloneses, turcos, africanos, russos, etc. compõem a mão de obra barata da Alemanha.

No meu primeiro dia, fiquei na seção de crianças junto com uma angolana (o que me deixou super feliz porque ela falava português e me ajudava).
No meu segundo dia, fiquei na seção de artigos pra casa e coisinhas de Natal. Descobri umas coisas maravilhosas que eles vendem . Meu sonho é que existisse Primark no Brasil! #consumismofeelings
No terceiro dia, fiquei na seção de bebês com uma novata da Indonésia.
No quarto dia, na seção de casa de novo.
E no quinto, na seção de roupa feminina (a pior parte, women are crazy).

Esse sapato que eles deram acabam comigo.
Eu saio quase me arrastando no final do dia.
No primeiro dia saí de lá com vontade de chorar, sem sentir meus pés (pois não sentava há quase dez horas) e desejando nunca mais entrar naquele lugar na minha vida. No dia seguinte foi mais fácil, mas igualmente cansativo. No terceiro, posso dizer que foi até legal - talvez porque eu tenha dormido bem - e também conheci uma senhora que me orientou bem direitinho e me deu um chocolate "for doing such a boring job" (palavras dela).

Observações:

1 - A frase que eu mais escutei durante esses dias foi "Mama, papa, guck mal!" (Mamãe, papai, olhaaa!)

2- Toda vez que chega um cliente perguntando algo eu entro em pânico. Às vezes, eu não entendo e acabo respondendo alguma coisa bem nada a ver. Mas agora eu to me saindo com essa "Ich weiss nicht. Ich bin nicht von diese Abteilung, aber ich kann mein Kollege fragen". (Eu não sei, eu não sou desse departamento, mas posso perguntar ao meu colega). Às vezes, eu até entendo as perguntas, mas as pessoas querem coisas impossíveis.

3 - Você que deixa calcinha especial edição de Natal na seção de bebês: você não vai pro céu. Uma seção é do lado oposto da outra na loja. E acreditem: a loja é enorme. Acho que percorro quilômetros pra organizar tudo.

4 - Um dia eu fiquei ajudando os caixas abrindo as sacolas. Acho que foi um dos pontos altos também. É (quase) divertido ficar vendo o que as pessoas compram. Teve uma mulher que gastou mais de 500 euros! (e acredite: pra gastar isso tudo ela teve que sair com MUITA sacola).

5 - Reclamaram um dia que eu estava atrasada. Eram exatamente 13h (nesse dia, excepcionalmente, começava às 13h), mas a mulher disse que era pra estar lá 15 minutos antes. Ela também reclamou do meu cabelo que tava solto e dos meus brincos. Alou, se ninguém me diz nada, eu não tenho como adivinhar, né?
Refeitório

6 - Trabalhei no último sábado antes do Natal e eu tava esperando que esse dia fosse ser uma loucura. Mas a loja ficou super vazia. Minha colega alemã disse que os alemães pensam nisso e compram as coisas com antecedência. Isso é TÃO alemão, meu deus.

7 - Eu já tinha reparado como existem muitos bebês aqui, mas na loja isso é ainda mais notável! E os pais são super novinhos! É incrível a quantidade de bebês, sério.

8 - A quantidade de turcos também é assustadora. A proporção dos clientes parece ser metade alemães, metade turcos.

9 - Não, eu não tenho desconto na loja.

10 - Um problema: eu tenho vontade de comprar tudo que eu vejo lá. É impressionante como as coisas podem ser tão bonitas e tão baratas.

11 - Se eu desenvolver TOC, vocês já sabem o que foi.

12 -  É engraçado pensar todo mundo está ali na mesma situação. Ninguém de fato gosta desse trabalho (de corno), mas o dinheiro é bom e necessário. E eu fico tentando imaginar quais são os sonhos e as histórias que cada um que está ali tem. Eu, por exemplo, sou brasileira e fotógrafa, a outra alemã trabalha também numa igreja e a menina da Indonésia estuda informática em Bremerhaven.

13 - No Brasil seria simplesmente impossível ganhar o dinheiro que eu ganho trabalhando aqui. Além disso, os trabalhos costumam ser bem flexíveis em relação aos horários. É difícil encontrar alguém que trabalhe todos os dias porque a maioria é estudante.

14 - Como não existe esse tipo de trabalho no Brasil, os jovens acabam morando com os pais até quase depois dos 30 - quando começam a trabalhar de fato na sua área e a ter dinheiro suficiente pra manter o nosso custo de vida elevadíssimo. Aqui é difícílimo achar um jovem com mais de 20 anos que ainda more na casa dos pais.

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