segunda-feira, 17 de março de 2014

Como eu perdi minha carteira na segunda maior cidade da Alemanha e consegui recuperá-la intacta

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Antes de tudo, palmas pra Alemanha.

Tudo bem que não tinha dinheiro na carteira, mas mesmo assim, ela voltou com todos os cartões, todos os papeizinhos, inteirinha.

As duas piores coisas que podem acontecer quando se está fazendo intercâmbio: 1) ficar doente 2) perder os documentos. Sério, não desejo isso nem pras inimigas.


Eis a dita cuja. Fica aí a merchandising pra Uncle K (teria sido outro prejuízo
perder a própria carteira - porque foi cara). 
Tudo começou num dia muito errado em Hamburgo.

Fui bem cedo, na sexta-feira passada, pra Hamburgo com três objetivos: 1) comprar um negócio com uma mulher que eu achei no ebay; 2) fotografar (porque durantes duas semanas o tempo estava sendo incrível e eu estava me sentindo cada vez mais culpada de não aproveitar melhor isso); 3) encontrar Anita e as meninas e finalmente conhecer de verdade a noite na famosa Reeperbahn, St. Paulis.

Resultado:
1) A mulher me deu um bolo. Fiquei uma hora na estação esperando por ela até ela dizer que não sabia que eu ia (até onde eu sei, com o meu pobre alemão, Freitag significa sexta).
2) O dia amanheceu tão feio, mas TÃO feio que tinha até neblina. Ainda assim tentei tirar umas fotos.
3) As meninas demoraram muito pra sair de casa e como eu tinha passado o dia andando (eu não gastei dinheiro com uma passagenzinha de metrô), cheguei à conclusão de que tava cansada demais pra encarar a noite e resolvi voltar pra Bremen às 23h38 (hora de partida do trem).


Hamburgo num dia muito feio. E sim - sou fotógrafa e uso o Instagram.
Sou total a favor dele e isso é outra discussão, bjs
Foi aí que se deu a merda. Eu tava tão cansada, mas tão cansada, que esqueci minha carteira em cima do caixa do supermercado da estação central. E nem sequer percebi.
Eu só me dei conta de que tinha perdido a carteira quando o funcionário do trem foi me cobrar o semesterticket (aqui na Alemanha você não é fiscalizado quando entra no trem, é fiscalizado durante a viagem). O cara, então, ligou pra estação e confirmou que minha carteira tava lá no setor de achados e perdidos - ou Fundbüro. Ele foi legal, não me cobrou multa (porque também, sacanagem né, ele viu que eu tava falando a verdade) e me deu um número pra eu ligar na manhã seguinte.

Quando cheguei em Bremen, às 2h da manhã, me dei conta de que simplesmente não podia pegar o ônibus pra casa porque iam pedir pra mostrar o maldito ticket. Tive que pegar então um tram que me deixou a mais de um quilômetro de distância do meu porãozinho.

Quando eu achava que não podia piorar, começou a cair uma chuva de vento e um cara começou a me perseguir. Eu fiquei assustada (já ouvi falar de gente que foi assaltada na porta de casa aqui em Bremen - pasmem!) e acelerei o passo. Quando vi, o cara estava praticamente correndo atrás de mim - isso de 2h da manhã, na chuva e numa rua deserta. 
Ele começou a falar comigo. Ignorei. Ele falou de novo. Começou a fazer mil perguntas. Inventei todas as respostas. Por um momento achei que ele fosse me seguir até em casa. Até que ele dobrou a esquina e sumiu. É sério que ele queria fazer amizade (ou qualquer outra coisa que fosse) desse jeito?

No dia seguinte, às 8h em ponto (hora que o cara disse que abria os achados e perdidos), liguei pro número que ele me deu. 1) O funcionário não falava inglês 2) Ele disse que não era lá e que eu tinha que ligar pra outro número. Fiquei frustradíssima pois achava que tudo iria se resolver naquele dia mesmo.

Achei então o número da central de achados e perdidos da Deutsche Bahn. Passei uns 5 minutos ouvindo musiquinha esperando pra ser atendida. Quando finalmente me atenderam, a mulher não falava inglês e teve que passar pra outra (eu fico me perguntando, se fosse um turista que não soubesse uma palavra em alemão, como ele teria se virado nessa situação, sério). E aí, pff. A ligação caiu. Meus créditos tinham acabado. Entrei no banco pela internet e coloquei mais 20 euros no celular. Liguei de novo. Quando eu já tinha dado todos os meus dados e faltava só o telefone pra me ligarem de volta caso achassem a carteira... caiu de novo. Coloquei mais 15 euros. Até que me dei conta de que podia fazer aquilo tudo online - e não precisava gastar quase 3 euros por minuto naquela ligação. No site da Deutsche Bahn eles dizem que a ligação vai custar 0,59 euros/min, mas é mentira. Conclusão: gastei 40 euros numa ligação que não serviu pra nada, tamanho o meu desespero. 

Vi então que tinha o centro de achados e perdidos de Hamburgo e deveria ser lá. No entanto, teria que esperar até segunda-feira pra ligar e perguntar. Aproveitei e mandei um email. Passei o sábado e o domingo trancada em casa (já que não podia pegar ônibus) meditando tendo um treco.

Quando acordei hoje, na segunda-feira, a primeira coisa que vi foi o email de resposta do centro de achados e perdidos de Hamburgo dizendo que esse departamento de coisas perdidas em estação/trem/metrô não era com eles. Quase infartei. Eu tinha certeza que era lá.

Descobri que depois de um tempo as coisas eram enviadas pra outro centro em Wuppertal. Onde diabos é isso? Pois é, tive que dar um google - descobri que  era lá pelo lado oeste da Alemanha. E depois de um tempo eles se livravam das coisas, tipo depois de uns 10-14 dias.

Mas não podia ser. O cara do trem ligou pra estação e confirmaram até a cor da minha carteira (thank god eu comprei uma carteira VERMELHA). Só podia estar lá! Liguei de novo pro mesmo número de sábado - aquele que antes tinham dito que não era lá. E era lá. ¬¬ Lá estava minha carteira. E de novo - o cara não falava inglês. Teve uma hora que eu não entendi pn. Mas eu tinha entendido o mais importante e anotado o número de procura (?) do objeto (na hora eu não entendi que porra era esse número, mas depois eu me liguei).

Agora parte dois: como ir de Bremen pra Hamburgo 1) sem o semesterticket 2) sem um tostão no bolso porque todos os meus cartões estavam na carteira ?

Primeiro pensei em pedir pra Anita ir buscar pra mim, mas não fazia muito sentido já que alguém teria que trazer de Hamburgo pra cá. Depois pensei em pedir pra uns amigos aqui, mas a maioria não desenrola muito alemão e eu nem tinha certeza se alguém poderia pegar no meu lugar. Pensei em pedir dinheiro emprestado pra comprar a passagem e ir pra lá. Mas resolvi me arriscar e contar com a boa fé das pessoas. Peguei meu passaporte (porque, sim, não sou tão besta de sair andando por aí com passaporte - logo, ele estava são e salvo em casa) e peguei meu certificado de matrícula da universidade pra comprovar que eu tinha o semesterticket. Passei metade da viagem nervosa esperando o cara vir fiscalizar. Mal precisei explicar a situação e ele soltou um "it's ok". Foi super limpeza.

Cheguei na estação e descobri que eles têm uma área chamada Gepäckcenter (ou algo do tipo) pras coisas perdidas, do lado do centro de informações da DB. Cheguei lá e a primeira coisa que o cara pediu foi o tal número que me deram no telefone. Mostrei meu passaporte. Assinei um papel. E lá estava a danada, guardada num saco plástico - como se fosse a evidência de um crime. Abri pra conferir se estava tudo certo. É verdade que a carteira estava toda remexida, mas todos os cartões e papeizinhos estavam em ordem. Quase chorei de emoção.

Quero nem imaginar como seria a confusão pra conseguir um Visa Travel Money novo, ter que pagar por um cartão novo do banco alemão, ter que ir no centro da cidade pedir uma identidade nova - e pagar por ela também, plano de saúde, cartão de crédito do Brasil... Olhe, ia ser uma novela. Fora que eu tinha contas pra pagar essa semana e sem o Visa Travel Money eu não ia ter de onde tirar o dinheiro e meu saldo ia ficar negativo no banco aqui.

Mas é isso aí, a Alemanha tá de parabéns - pelo pessoal do supermercado ter devolvido, por não ter sumido nada, por não terem me cobrado nenhuma multa no trem porque eu tava sem ticket. Só não vou aplaudir a galera que não falava inglês e essa ligação que me custou os olhos da cara (sério, dava pra ter pago uma passagem de ida e volta pra Amsterdam).



Ps.: Meu dia em Hamburgo não foi completamente perdido: eu visitei a Haus der Photographie - uma galeria de fotografia instalada num antigo armazém do porto -; comprei um monte de livro novo por 1,5 (eu boto fé que eu vou conseguir ler um dia) e descobri um cinema sensacional e fofo perto da Rathaus - ele se chama Kino Passage (pretty obvious, huh?) e eu assisti 12 Anos de Escravidão dublado em alemão (por sinal, me cobraram cinquenta centavos a mais porque disseram que o filme era mais longo que o normal. Oi?).

Ps 2.: De verdade, repetindo, eu não sei como alguém resolveria uma bronca igual a minha sem saber o mínimo de alemão. Atenção, turistas.

Ps 3.: Fiquei estressadíssima esses dias porque isso NUNCA/JAMAIS/NEVER/NIE aconteceu em toda a minha vida. Mesmo com todas as festas, com todas as viagens, com aquele ano novo em Berlin... eu NUNCA perdi minha identidade, cartão de banco, carteira de estudante, VEM, nenhum documento, chave, enfim. E justamente num momento de sobriedade, em outro país, numa cidade que não é nem a que eu moro, me acontece um negócio desses. E logo num final de semana, pra deixar minha ansiedade no máximo durante dois dias.

Ps 4.: Quero agradecer a Anita por todo apoio prestado durante esse momento difícil!


Dicas pra quem passar por algo parecido: 

1) S-Bahn Hamburg Fundsachen (achados e perdidos da estação central de Hamburgo)

Telefone: 040/39182857 (foi exatamente esse número que o cara me deu)
Fundsachen der S-Bahn HH in der Wandelhalle. Nach 1 Woche geht die Fundsache nach Wuppertal 0202/352442
(traduzindo: depois de uma semana eles mandam pra Wuppertal: número de telefone 0202/352442)

2) DB Station & Service AG, Zentrales Fundbüro

(Central de achados e perdidos da DB em Wuppertal)


3) Número da central telefônica de achados e perdidos
+49 9001990599 - atenção: foi aí que eu perdi meus 40 euros. Ao contrário do que diz no site, a ligação é bem mais cara que 0,59/min.

http://www.hamburg.de/behoerdenfinder/hamburg/11280629/


E não adianta de nada, porque o que a mulher faz no telefone é exatamente o que você pode fazer aqui nessa página: https://www.fundservice.noncd.db.de/vug/view/fundservice.faces?javaScriptEnabled=true&sprache=en


Ou seja, cadastrar o seu objeto perdido.


4) Por último, a central de achados e perdidos de Hamburgo (fica em Altona) 
Era onde eu tinha certeza que ia encontrar minha carteira e fiquei frustrada quando me responderam. E que não se responsabiliza por objetos perdidos em trem/estações/metrôs, etc.



Palavras que nunca mais eu vou esquecer:

1) Geldtasche/Geldbörse = carteira
2) Fundbüro = Achados e Perdidos
3) Verlieren = perder (verloren = perdido)

E fica aí mais uma lição pra vida.


Só pra deixar registrado:
Hoje, um dia útil depois de eu fazer o meu registro de perda online, recebi uma carta da Deustche Bahn dizendo que minha carteira tinha sido encontrada e onde ela estava. Ou seja: o bagulho realmente funciona! (só que ao invés de mandarem um email avisando, eles mandam uma carta ¬¬ tudo aqui é resolvido por carta)


















Repetindo o link pra fazer o registro online:  https://www.fundservice.noncd.db.de/vug/view/fundservice.faces?javaScriptEnabled=true&sprache=en




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