segunda-feira, 10 de março de 2014

Como eu consegui levar um esporro injusto em alemão e não consegui me defender

Ontem eu passei por uma situação muito chata aqui em Bremen e que me fez refletir sobre o quão desesperador pode ser não conseguir se expressar - ou se defender, como foi o meu caso.

Na hora do meu almoço, durante o trabalho, saí pra comprar um sorvete na praça de alimentação do shopping e o lugar estava simplesmente um caos. Todo mundo comentava a desordem e a ausência de uma fila. Concordei plenamente. Pedir um casquinho dependia apenas da vendedora olhar pra sua cara ou não. E ela olhou pra minha e perguntou o que eu ia querer. "Uma bola de café" - respondi rapidamente pra aproveitar a oportunidade.


Quase instantaneamente senti alguém me cutucando com muita força. Olhei pro lado pra saber o que diabos tava acontecendo: uma mulher indignadíssima, reclamando que eu tinha furado a fila (que fila?) e passado na frente da filha dela (que devia ter uns 10 anos). A menina chega fez uma cara de assustada quando viu a cena.

Eu não sabia o que fazer. Como explicar em alemão que estava tudo um caos e que a menina tinha aparecido lá depois de mim (eu vi quando ela chegou) e que ela não era a minha mãe pra me cutucar desse jeito (sério, ela só faltou me bater!)?

Falar um alemão todo troncho? Eu não sabia nem como se dizia "fila" em alemão! Mandar ela ir se foder  pastar em português? Tentar argumentar em inglês?

Achei que seria ainda pior se eu agisse como uma estrangeira e contribuísse pra reforçar ainda mais um estereótipo. E se ela soubesse que eu era brasileira? Eu já podia ouvir um "só podia ser".

ainda não entendi como num lugar certinho e organizado como
a Alemanha pode haver uma situação dessas, em que não se
tem um fila. 
Decidi me resignar em silêncio. Fingi que a cidadã não existia. Não olhei pra cara dela. Me fiz de doida, como se não tivesse acontecido nada.
E eu ainda conseguir ouvir a mulher me esculhambando em alto e bom tom pra todo mundo que estava lá por um bom tempo. Ainda soltou um "mein Gott" quando eu saí.








Conclusão: paguei de mal educada sem ter feito nada e sem ter podido me defender. Só faltei chorar de raiva.

É desesperadoramente claustrofóbico não conseguir se expressar. É como se eu tivesse presa em mim mesma. É como se eu não existisse.

Além disso também parei pra refletir outro ponto: acho que a mulher ficou ainda mais ofendida porque o "fato" se deu com a filha dela. Eu entendo uma mãe querer defender a sua cria, é normal, mas às vezes eu tenho a impressão de que aqui na Alemanha os pais são muito super protetores. E as crianças, consequentemente, mimadas e birrentas. Já perdi a conta dos escândalos que eu já vi na rua. Crianças que se jogam no chão e forçam o choro até conseguir o que querem dos pais constrangidos. Sinceramente, não lembro de ver isso com tanta frequência no Brasil.

Agora eu tenho mais um motivo pra estudar alemão hardmente. Autodefesa. Espero porém, nunca mais ter que passar por isso.

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