Meu novo quarto :DD |
Semana passada eu me mudei aqui em Bremen. E muita gente tem
me perguntado o que tava acontecendo e etc. Então vamos lá. Vou explicar tintin
por tintin com todos os detalhes o que aconteceu nesse semestre e porque eu postei tantos textos melancólicos e nostálgicos.
Ps.: Aviso de antemão: estou ótimo, muito bem mesmo! E quem quiser vir pra Bremen, pode falar comigo que tem lugar na minha casinha :)
Como eu achei o meu
primeiro quarto
Achar um lugar pra morar estando ainda em outro continente é
uma tarefa meio complicada. Ciente disso, a minha universidade – Hochschule Bremen
– tem um site que facilita a vida dos intercambistas: into-rooms. Esse site
ofertas vários quartos cadastrados por pessoas de confiança – teoricamente, o
pessoal do international office conhece
todos os landlords e landladys (como chamam aqui as pessoas
que vão te hospedar). Existiam duas categorias de quarto: host family e shared flat.
Obviamente eu descartei todas as host
families e procurei por um lugar em que eu pudesse morar só com estudantes.
Escolhi um quarto que pelas fotos parecia bom e o preço era o mais barato: 250
euros. Entrei em contato com a pessoa responsável por email. Ela pediu metade
da caução antes de eu viajar – ou seja, pra transferir o dinheiro pro banco
dela, na Alemanha, meus pais gastaram quase o dobro do valor só de impostos – e
mandou o contrato por correio pra eu poder assinar.
O flat supostamente seria dividido com outra estudante (que
depois descobri ser uma espanhola) – cada uma no seu quarto – e os donos
morariam no andar de cima (um casal de aposentados alemães). Eles disseram que,
ocasionalmente, eles passariam pelo
nosso flat pra poder usar o porão. Achei que não tinha problema.
Eles me buscaram no aeroporto e a filha do casal – que fez
toda a intermediação antes – nos levou pra conhecer a cidade no dia seguinte. O
flat de fato, era muito bom, o quarto era enorme e o banheiro também. Toda a
mobília era nova e tudo parecia perfeito.
Eles chegaram até a me dar presente de aniversário e a fazer um bolo! |
Episódios
Esses episódios foram os
principais acontecimentos (e também os que eu me lembro, porque foram tantas
coisas que aconteceram que é difícil relatar tudo). Foi como uma bola de neve.
Só fez crescer e crescer.
Além de tudo relatado
abaixo, os donos da casa ficavam circulando pelo flat a cada 5 minutos,
xeretando tudo – inclusive o meu quarto, que eu comecei a trancar no final
porque tinha certeza que eles entravam lá.
Episódio nº 1: Depois
de um mês, mais ou menos, a mulher apareceu (a filha do casal) dizendo que
precisava tratar conosco questões de higiene (??) [e era assim: eles deixavam
recadinhos com data e hora marcada na cozinha]. Então ela sentou com a gente
com uma caneta e uma prancheta na mão e começou a fazer uma tabela ridícula e a
nos tratar como se fôssemos crianças. Além disso, o flat estava limpo e eu
fiquei sem entender o que ela queria dizer com aquilo. Depois eu descobri que
eles são paranoicos e obcecados com
limpeza. Outra coisa que aconteceu nesse dia: a mulher disse que me
alugaria uma das bicicletas dela e que ia falar comigo assim que eu chegasse de
uma viagem. Eu esperei, esperei, esperei... mandei um email perguntando sobre a
bicicleta e ela me ignorou. Nesse dia, quando ela já estava indo embora e eu
perguntei de novo, a resposta que eu obtive foi :“Sinceramente, Ursula, eu não
confio em você pra alugar minha bicicleta porque a vejo a situação em que o
flat está”. Fiquei meio chocada. Gente, do jeito que ela falava parecia que a
gente tava morando num ninho de rato, numa pocilga, ou qualquer coisa imunda
que seja! Mas eu olhava pros lados e não sabia nem o que limpar porque tava
tudo limpo! :O
Depois desse dia, ela desapareceu. Ela parecia realmente
irritada e eu nunca mais a vi.
Episódio 2:
Depois do que aconteceu, eu já comecei a me sentir desconfortável na casa.
Então pra melhorar um pouquinho isso, comprei uns pôsteres, imprimi umas fotos
e troquei minha cama de posição no quarto. Não deu dois dias e o velho apareceu
pra reclamar. Ele mandou tirar os pôsteres porque ia manchar a parede e colocar
a cama de volta na mesma posição. Quando eu perguntei o porquê, a resposta sem
pé nem cabeça dele foi: “porque num hotel você não pode fazer isso”. Oi?
Ele ainda reclamou que eu sempre deixava meu laptop na mesa
da cozinha – a wifi nunca funcionava direito no meu quarto e mesmo assim eu
nunca tinha reclamado disso. Ele disse que se alguém (vulgo: minha única room mate)
quisesse usar a mesa, ela estava TODA ocupada. Detalhe: a mesa tem 4 lugares.
Eu ocupava só um. Minha room mate nunca reclamou.
Ps.: ele reclamou
praticamente gritando comigo.
Gritando. Sim. Eles não sabem conversar.
Episódio 3:
Estávamos esperando um furacão passar por Bremen e eu tinha acabado de comprar
minha bicicleta. Tipo, tinha comprado no dia anterior. Na primeira noite,
deixei ela amarrada no poste, na rua, porque não queria ter que falar com meus
landlords. Mas no segundo dia, ia ter esse danado desse furacão e eu não queria
que minha bicicleta saísse voando por aí. Aí acordei bem cedo e guardei ela
numa casinha de bicicletas que tem no jardim da casa. Não deu 5 minutos (JURO,
5 MINUTOS) e a velha (dessa vez foi a velha) começou a bater na porta do meu
quarto GRITANDO em ALEMÃO (porque ela não fala inglês). Ela tava completamente
transtornada e dizia pra eu tirar a bicicleta de lá imediatamente porque aquele
lugar era dela e só dela e que eu me
virasse pra achar outro canto. Eu ainda tentei explicar morrendo de raiva e com
meu alemão capenga que quando eu cheguei aqui, nas primeiras semanas, o marido
dela me disse que assim que eu comprasse uma bicicleta, eu podia guarda-la lá.
Não deu em nada. No fim, escondi minha bicicleta dentro do quarto mesmo.
Episódio 4: No
último mês em que eu estive lá, o velho pediu pra transferir o dinheiro pra
conta dele. Quando eu fui tentar pela internet, não consegui. Então tirei o
dinheiro e disse a ele que ia deixar em cima da mesa porque precisava trabalhar.
Nesses dias eu tava trabalhando muito e praticamente não parava em casa. E eu
não queria mais confusão atrasando o aluguel. Quando voltei, ele tinha
respondido dizendo que ia estar em casa de tal a tal hora e que eu fosse lá
entregar (ou seja, subir as escadas) – só que eu não ia estar porque estava
trabalhando. E disse que ia deixar o dinheiro lá, ainda em cima da mesa ou que
se ele preferisse, eu podia transferir durante a semana. Depois de quase dois
dias tentando entregar o dinheiro, o cara pegou e mandou um email grosseiro
dizendo que na Alemanha não se fazia isso. Me diz, o que custava ele descer e
pegar a porra do dinheiro?
Episódio 5: Nos
últimos dias em que estive na casa, a mulher – a filha do casal que tinha
desaparecido após o episódio 1 – me mandou um email dizendo pra eu devolver um
casaco dela. Oi? Que casaco, minha filha?
Foi o seguinte: logo quando chegamos em Bremen, ela me
emprestou uns 3 casacos dela porque eu não tinha nenhum. Depois que eu comprei
o meu, devolvi o que ela tinha me emprestado e os outros dois que ficavam no
cabideiro sumiram na mesma época. Então pensei que ela tinha levado todos
embora. Quando perguntei à minha room mate se ela sabia de uma coisa, sim, ela
sabia. Ela tinha pego o maldito casaco.
Avisei então à mulher que estava com a room mate e que ela
devia ver isso com ela. Então ela me respondeu super grossa dizendo que tinha
emprestado o casaco a mim e que eu que deveria devolver. Como eu ia adivinhar
que a menina tinha pego?
A gota d’água: Eu
já tinha avisado aos landlords que eu estava procurando outro lugar pra morar –
expliquei isso bem educadamente, disse que as coisas não estavam funcionando,
que eu não estava me adaptando e que ainda assim agradecia por tudo que eles
tinham feito por mim. A resposta da mulher foi “É, acho que vai ser o melhor
para todos nós. Você pode ficar até 1 de fevereiro, mas nós gostaríamos que
você saísse antes”. Curta e grossa. Então me fizeram assinar um acordo em que
eu dizia que sairia até 1 de fevereiro.
Então, certo dia de dezembro, quando eu estava saindo pra
trabalhar mais uma vez (eu tava exausta dos outros dias, não tinha conseguido
dormir de noite e ainda tava atrasada), o velho chegou e disse que eu TINHA que
dizer a ele a DATA EXATA de quando eu ia deixar a casa. Eu respondi que ainda
não tinha achado outro canto. Ele disse que era problema meu e que eu tinha que sair até 20 de janeiro. Fiquei
puta. Disse que ele tinha me feito assinar um contrato em que dizia que eu
podia ficar até dia 1 de fevereiro. Ele
disse que ia fazer outro contrato.
Saí transtornada pra trabalhar. Cansaço e raiva não
funcionam bem juntos. Depois de duas horas trabalhando, vendo aquelas mulheres
malucas jogarem todas as roupas no chão pra eu apanhar, os clientes perguntando
mil coisas em alemão (e eu sem entender nada), não aguentei. Me tranquei no
banheiro e comecei a chorar compulsivamente. Eu não sabia mais o que fazer. Eu
não queria mais ficar naquela casa. Não dava mais pra mim.
Aí o pessoal do Brasil tentou me
ajudar. A Isabelle e o Fernando ofereceram a casa deles pra eu ficar. Corri pra
casa e empacotei todas as minhas coisas em uma hora e no dia seguinte o Steffen
(meu amigo alemão) me ajudou na mudança. Quando eu já estava saindo, o velho
apareceu e disse que queria o número da minha conta e o meu novo endereço pra
ele mandar as cartas que lá chegassem. Eu disse que mandava por email. Ele
concordou. 5 minutos depois, ele mudou de ideia e começou a gritar “VOCÊ VAI ME
DAR AGORA, EU QUERO AGORA”. Depois ele ainda começou a dar esporro em alemão no
Steffen – que não tinha nada a ver com a história - e eu morri de vergonha. No
final, o velho ainda começou a gritar “IT’S OVER, IT’S OVER”. Avaliem a
situação.
Meu novo quarto
Dos três meses em que eu morei naquela casa, dois eu passei
procurando outro quarto. Pedi ajuda à cooperação internacional, mandei cerca de
100 emails pra ofertas de quartos diferentes (nesse site: http://www.wg-gesucht.de/), visitei 10
quartos e quase fui morar com 4 paquistaneses. A resposta das pessoas era
sempre “entramos em contato com você semana que vem, temos mais pessoas pra ver
o quarto” ou “sinto muito, encontramos outra pessoa” ou simplesmente não tinha
resposta. Até que, no Natal dos brasileiros, em dezembro, eu conheci Renato e
Leandro – ambos tinham acabado de se mudar pra cidade e também estavam à
procura de um lugar pra morar. Eles me passaram então o contato de um flat que
eles tinham visto, mas que era muito pequeno pros dois.
Fui ver o flat – que ficava muito perto da minha casa antiga
- e achei o dono muito simpático. O lugar estava todo reformando, meio
bagunçado e eu achei meio estranho o banheiro ser do lado de fora. Além disso,
eu teria que pagar 275 euros + energia e instalar internet. Disse que dava uma
resposta depois.
Então, no dia em que
saí da outra casa, liguei dizendo que queria ficar com o flat. Como ainda
estava reformando, eu teria que esperar ainda umas duas semanas.
Voltei da Irlanda direto pro flat e fiquei surpresa quando
vi que ele estava lindo! Hahaha com tudo novinho e arrumado (: finalmente eu
iria morar sozinha, sem ninguém pra encher meu saco. Era um sonho.
Social de inauguração com os brasileiros :) Isabelle, Steffen, Rodolfo, Talita (Aline tirou a foto), a Daniela foi embora mais cedo e ficou faltando Leandro e Renato! |
cozinha |
Inauguração alemã! |
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Da água pro vinho:
sou outra pessoa
Eu saí do meu antigo quarto no dia do Natal: 24/12. Quando
cheguei no quarto da Isabelle, sentei na cama dela e ainda chorei muito. Mas
foi a última vez desde então. Algumas pessoas acharam triste eu ter passado
minha noite de Natal assistindo Breaking Bad sozinha – mas gente, eu tava muito
feliz. O melhor presente de Natal que eu poderia ter ganhado foi ter saído
daquele lugar.
A partir daquele momento eu comecei a me sentir outra
pessoa. Mais leve, mais feliz. Comecei a ter vontade de andar pela cidade e
explorar lugares novos, voltei a sair com meus amigos quase todos os dias e
agora me sinto como se estivesse no primeiro mês em que cheguei aqui:
apaixonada pela Alemanha. Voltei a reconsiderar meus planos de morar aqui
definitivamente quando terminar a faculdade no Brasil. Também voltei a malhar
todos os dias e a ter uma alimentação decente – vai ser difícil, mas preciso
correr atrás do prejuízo. Desde que eu me mudei é como se alguma coisa tivesse
voltado a viver dentro de mim, difícil mesmo explicar, mas eu não sabia que
faria tanta diferença.
Romênia, Malta, Turquia, Grécia, Egito, Índia, Holanda e Brasil - não tinha como ser melhor minha segunda social em casa :) |
Eu só não sei como eu vou conseguir voltar pro Brasil sem eles :( |
E eu tive sorte, muita sorte de ter achado esse flat e muita
sorte de ter os amigos que eu tenho aqui (:
Ursula, que bom que FINALMENTE deu tudo certo. Vc n parecia ser a mesma nesses posts, sempre triste, e mesmo nas fotos com seus amigos tava sempre de cara fechada... sem dúvida n tinha nada a ver com a ursula q conheci por aq... E já dá pra ver as mudanças nas fotos po, tas linda e feliz, até com uma cara mais saudável kkkkkkkkkkkk!! E adorei o flat, super fofo!! A partir de agora, aproveite loucamente!! Bjooo lindona ;)
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