Eu sinto falta de pedir um expresso e ganhar uma xícara
cheia, cheinha mesmo, até a borda. Sinto falta de entrar numa livraria e me
interessar pelos livros e ficar com vontade de comprar todos – porque agora eu
não faço muita ideia nem do que significam certos títulos. Eu sinto falta de me
sentir bem informada – não consigo acompanhar as notícias da região. Eu sinto
falta de tomar caipirinha por 4 reais no Novo Pina. Eu to cansada de tomar
cerveja, cerveja, todo dia cerveja. Eu sinto falta de poder andar descalça
dentro de casa – porque o chão aqui é sempre gelado. Na verdade, eu sinto falta
de ter uma casa. Eu sinto falta de ter privacidade – porque os donos do meu
quarto sempre entram e saem a hora que querem. Eu sinto falta de ouvir os
passos pesados do meu cachorro me seguindo pela casa. Eu sinto falta de abrir a
janela e respirar ar puro – porque é tão frio aqui que as janelas ficam sempre
fechadas. Eu sinto falta de deitar na rede e ler um livro. Eu sinto falta de
baixar meus filmes, meus seriados. Eu sinto falta de ir ao Cinema da Fundação.
Na verdade, eu sinto falta de ir ao cinema – porque aqui é muito caro e todos
os filmes são dublados em alemão. Eu sinto falta de poder ir pro prédio de
Decão e encontrar Nântua, Rodrigo, Igor, Victor e Dani pra tomar uma. Eu sinto
falta de sair com Kikushi e Bruna pra qualquer lugar que seja. Não preciso nem
dizer como eu sinto falta de Maragogi. De poder acordar e ouvir o barulho dos
coqueiros, de sentir o cheiro do mar. Eu sinto falta de ouvir meu ipod no Dois
Irmãos Rui Barbosa – porque aqui eu não posso baixar música. Eu sinto falta do
cappuccino de paçoca do Delta. Eu sinto falta de entrar numa loja qualquer e
ouvir alguém falando “bom-dia”. Eu sinto muita falta da minha língua. O
português é lindo. É tão moldável, adaptável, inventivo – eu sinto falta das
minhas expressões, do meu “oxente, vei, na moral”, dos meus palavrões,
inclusive. Eu sinto falta, muita falta de comer tapioca e pão de queijo. De
feijão então, nem comento. Eu sinto falta de passar na Fri Sabor depois da
aula. De ficar criando mil projetos com o pessoal de jornalismo na frente do
CAC. Sinto falta de Regina e Marina discutindo moda gospel.
Aí eu resolvo ligar a televisão aqui: passa How I Met Your
Mother – e de repente Robin fala “natürlich”. Levo um susto. E depois fico com
vontade de chorar.
A Alemanha é incrível, mas...
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